segunda-feira, 23 de maio de 2011



Grá
Dentro do culto djèdjè, talvez esse seja o assunto mais complexo e misterioso de todos. Sabemos que nossos ancestrais levaram grande parte da cultura junto com eles para seus túmulos e, são poucos os conhecimentos que nos foram passados. Por este motivo, são poucas as casas que realizam o ritual do Grá aqui no Brasil, passando o Grá a ser apenas um mito, contado pelos mais antigos e que meche com nossa imaginação sobre a natureza de tal espírito.

O Grá é um espírito primitivo, o nosso Neandertal interior, que é invocado antes de sermos iniciados com o propósito de nos fazer voltar ao passado, ao lado animal e irracional que habita to
do ser humano e que de fato é nossa origem. O Grá é como se fosse o lado negativo do Vòdún, a parte bruta da divindade, sua fúria e ira. Após o ritual do gbòlònàn (onde o inciado “morre para a sociedade” e “nasce para o vòdún”), o Grá é chamado com intuito de relembrar para o vodunsi suas origens, onde era necessário caçar pra comer, riscar pedras pra produzir fogo, andar por dias até encontrar água, etc. O Grá lembra ao vodunsi seu lado animal e primitivo, onde se solta esse espírito manifestado dentro das matas ou antigamente dentro do humpayme (fazenda grande onde ficava localizada a roça de santo e seus atinsás), e durante alguns dias ele deve se alimentar de caça, frutos e folhas, matar sua sede com água de córregos e rios e seu objetivo maior é matar seu zelador, matar aquele que irá iniciar a vodunsi e que guardará para sempre esse lado primitivo e irracional dentro do subconsciente do mesmo.

O Grá anda armado apenas com um bastão ou pedaço de pau e fica sempre na caça de seu zelador que durante o período que o Grá estiver manifestado deve ficar escondido. É um espírito incontrolável e agressivo, que assusta a todos que participam do culto, querendo atacar as pessoas com seu bastão. Após os dias de manifestação do Grá, chega finalmente o dia do encontro entre o espírito e
seu zelador. Ao som de paó e adahun o Grá entra pela porta principal do kwè e se deparara com seu zelador, partindo pra cima do mesmo para agredi-lo porém, é dominado pelos ògàns e vodunsis mais velhos e expulso pra sempre do vodunsi, deixando o corpo limpo e preparado para a manifestação e iniciação do vodun.

Hoje em dia é quase que impossível realizar tal ritual, uma vez que nos falta cultura e até mesmo espaço para deixar-mos o Grá a solta. Mas, certamente, para nós esse ritual faz falta deixando um vazio no que se diz repeito a origens e, curiosos em relação a tal espírito que hoje em
dia
continua preso, apenas em nosso subconsciente.

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