Òsáàguíyàn
Trata-se de uma divindade
fúnfún jovem, filho de Òsáàlúfón e Íyèmònjá. Seu nome era Ákínjòlè, mas passou
a ser chamado de Òsáàguíyàn, Òguíyàn ou Òsóòguíyàn, pois gostava muito de íyàn
(inhame). Nasceu em Ífé, muito antes de Òsáàlúfón conquistar a cidade de Ífón.
Por ser um grande guerreiro, decidiu ter seu próprio reino, partindo
acompanhado de seu amigo Áwòlèdjè, um grande gbágbáláwò, que sempre o
aconselhava durante sua trajetória.
Ficou conhecido nas terras de
Ògbómónsó como Èlèmòsó, o senhor dos belos ornamentos, devido a sua linda roupa
de guerra, toda em metal e prata.
Òsáàguíyàn chegou até as
terras de Èjígbò, destronando o rei e tomando a cidade para si, sendo titulado
de Èlèjígbò, o senhor das terras de Èjígbò. Áwòlèdè, seu amigo e conselheiro,
mandou Òsáàguíyàn fazer determinados sacrifícios e oferendas para que suas
terras prosperassem e seu reino fosse conhecido. Assim foi feito e, todos
ouviam falar de Èjígbò e de seu grande rei, o comedor de inhame pilado. Com a
glória e o poder, Òsáàguíyàn passa por mudanças de comportamento, forçando
Áwòlèdè a seguir viagem para outras terras. Èjígbò cresceu mais e mais, se tornando
uma das terras mais ricas e prósperas de toda a África.
Certo dia Áwòlèdè retornou a
Èjígbò, mas não foi reconhecido pelos guardas reais e foi mal recebido, sendo
espancado e preso no calabouço do castelo.
Áwòlèdè, mortificado com os
maus tratos, resolveu usar sua magia para castigar o reino de Èjígbò, fazendo
com que durante um longo tempo não chovesse, trazendo a seca e a fome para a
região.
Òsáàguíyàn desesperado e, sem
ter seu amigo e gbágbáláwò por perto, procura outro advinho que, através do oráculo
de Ífá, conta a Òsáàguíyàn que existia uma grande injustiça em seu reino, pois
seu fiel amigo estava preso em seu calabouço e, este tinha entoado pragas para
a cidade. Òsáàguíyàn rapidamente vai até a prisão e solta Áwòlèdè que, muito
sentido por tudo o que passou, não perdoa Òsáàguíyàn e se embrenha na mata.
Òsáàguíyàn foi atrás de Áwòlèdè e lhe suplicou que perdoasse sua terra. Áwòlèdé
lhe concede o perdão com uma condição: todos os anos os moradores de Èjígbò,
antes do período de seca, deveriam partir para a floresta densa, cortar
trezentos feixes de varinhas e divididos em dois grupos, deveriam se golpear,
uns aos outros, até que a varinha quebre ou se gaste.
Assim foi feito e todos os
habitantes de Èjígbò, divididos nas províncias de Ísálè òdò e de Òkè Mápò, se
golpearam com varinhas, lembrando o sofrimento de Áwòlèdè ao ser preso
injustamente e a humildade de Òsáàguíyàn em reconhecer o erro. Após esse
ritual, chamado de Lòrògún, a chuva tornou a cair e a cidade de Èjígbò
tornou-se rica e próspera novamente.
Outra lenda africana relata
que após a morte de Áwòlèdè, Èjígbò tornou-se a ter problemas com a seca e,
seus habitantes passaram fome. Òsáàguíyàn preocupado com seu reino e temendo
que sua principal comida, o inhame, se esgotasse, procurou um gbágbáláwò que
pediu para que fizesse oferendas e sacrifícios, clamando a Èsú que de alguma
forma trouxesse de volta a chuva ou resolvesse o problema com a fome da
população. Ògún, o grande guerreiro, passava pela região de Èjígbò e ficou
sabendo através de Èsú da situação do reino de Òsáàguíyàn. Para agradar e
ajudar o grande òrísá, Ògún parte para mata e, auxiliado por seu exército, traz
consigo inúmeros sacos de inhame, matando a fome do povoado. Òsáàguíyàn ficou
muito grato à Ògún, fazendo uma grande festa chamada òjò ódò ou a festa do
pilão, onde quilos de inhame foram pilados e distribuídos para a população. Em
homenagem à Ògún, Òsáàguíyàn passou a usar a cor azul em seus apetrechos,
lembrando sempre do òrísá que lhe ajudou na hora que seu povoado precisou.
Outros ìtàns contam que certa
vez Òsáàguíyàn, ganancioso como era, queria ter o domínio sobre os mortos,
roubando dos Òjés, sacerdotes do culto à ègún, o ísàn (varinha pertencente ao
culto de Ègúngún, que tem o poder de invoca-los, controla-los e conduzi-los).
Òíyá, deusa soberana do culto, ficou sabendo do roubo e entoando òríkís
enfeitiçou o ísàn fazendo com que essa varinha dominasse Òsáàguíyàn, perdendo o
controle e destruindo tudo a sua volta. Òsáàlúfón, como de costume, reunia
todos os Òrísás em seu palácio em Ífón, para conversarem e discutirem sobre o
futuro da humanidade. Òsóòguíyàn tinha ido nessa reunião, munido de seu átòrí
e, num ato de cólera, acabou por partir para cima de todos os Òrísás, agredindo-os
com sua varinha. Quando chegou próximo de Òsáàlúfón, surgiu um grande guerreiro
das terras de Èkètí chamado Jágún, e prostou-se na frente do grande òrísá para
protegê-lo da fúria de Òsáàguíyàn. Esse guerreiro luta contra Òsáàguíyàn que,
após ter largado o átòrí, volta ao seu estado normal de consciência e pede
perdão a Òsáàlúfón e a Jágún. Naquele momento Jágún é condecorado um òrísá
fúnfún e passa a guardar o palácio de Òsáàlá, sendo conhecido como o grande
guerreiro branco. Òsáàguíyàn por sua vez rende homenagem à Jágún e passa a ser
chamado de Ájágúnàn, devolvendo o Ísàn à Òíyá e reconhecendo ela e os Òjés como
os únicos capacitados a controlar os mortos.
Òsáàguíyàn rege a guerra em
busca da paz. Representa o despertar do guerreiro e o início do combate. Senhor
do nascer do sol e do despertar da humanidade, garantindo que o ser humano
acorde todos os dias e levante de sua cama para agir sua vida.
É a divindade da juventude,
da alegria e da prosperidade. Representa o combate cotidiano em busca de
alimentos e conforto. É o dono do pilão (òdò) tendo o mesmo como símbolo de
fartura e poder. Usa como ornamentos ídá, òfá, átòrí e uma mão de pilão. Veste
branco com pequenos detalhes azuis (variando a tonalidade conforme a
qualidade). Seu principal ritual é o Pilão de Òsáàguíyàn e o Lòrògún. Também é
cultuado no ritual das águas de Òsáàlá.
Suas principais qualidades são:
- Gbágbá Ájágúnàn- vem nos caminhos de Ògún, Jágún e Òíyá. Senhor do Lorogun, sendo esta sua fase mais agitada. Usa ídá (adaga) e mão de pilão, além de átòrí. É o guardião do eixo da terra e quando irritado causa terremotos. Acompanha Ògún nas batalhas;
- Gbágbá Pétíòdè- vem nos
caminhos de Òdé, Òsún, Sàngò e Íyèmònjá. Representa a juventude, a
pureza e a infância. Seria o pai do caçador de pombos, Òdé Ínlè sendo titulado
por esse motivo de gbágbá – pai, Pètítì – pequeno, Òdé – caçador, ou seja, pai
do pequeno caçador ou jovem caçador. É um grande caçador, senhor dos campos e
planícies. É representado pelo nascer
do sol;
- Gbágbá Èpè- seria um òrísá
fúnfún a parte, que aqui no Brasil, teve sua cultura aglutinada ao culto de Òsáàguíyàn.
Vem nos caminhos de Òsún, Sàngò, Íyèmònjá e Òsáàlúfón. Era um grande guerreiro
que morava nas colinas. Também era um exímio pescador, tendo como prato
preferido o èjá (peixe) e por este motivo passou a ser chamado de Èpéèjá;
- Gbágbá Dànkó- vem nos caminhos de Ègúngún, Òíyá, Íròkò, Jágún e Òsáàlúfón. Representa a fase de Òsáàguíyàn no qual está tomado pelo poder do átòrí e perde o controle sobre si mesmo, agredindo a todos. Muito ligado à Ègún, sendo necessário agradar sempre os ancestrais e passar variados Ègbós em seus filhos. Responsável por proteger as árvores de onde são tirados os átòrís, águídávís e ísàn. Senhor dos bambuzais (Dánkò);
- Gbágbá Ákírè- Òrísá fúnfún presente
desde o início da humanidade. É um òrísá de culto a parte que foi englobado na
cultura de Òsáàguíàn. Aqui no Brasil seu culto não se expandiu muito, mas em
òsóògbò na África, era considerado um grande guerreiro, rico e poderoso que,
tinha o poder de castigar os aldeãos que agiam de forma contrária às leis da
cidade, transformando-os em surdos e mudo. É o protetor dos surdos e mudos,
tendo a propriedade de ajuda-los a se encaixar na sociedade, mesmo com sua
deficiência;
- Gbágbá Ètèkó- seria mais um Òrísá fúnfún que perdeu sua identidade e passou a ser cultuado como qualidade de Òsáàguíyàn e em algumas casas nem ser conhecido. Mora nas matas aos arredores de Ífón. Era um grande guerreiro, inquieto e muito habilidoso e por este motivo, passou a guardar a fronteira de Ífón, protegendo a cidade dos inimigos;
Saudação: Èpè Èpè gbágbá!
Cor: branco e azul;
Filiação: Òsáàlúfón e Íyèmònjá;
Sincretismo: Menino Jesus de Praga;
Elemento: ar e terra;
úmero: 8 (oito);
Òdú: Èjíònílè;
Dia da semana: sexta-feira;
Oferendas: inhame pilado, bolas de arroz, acaçás, ègbò, frutas,
doces, èmú, galinha d’angola, cabritos, frangos, pombos, coelhos, etc.;
Ervas: Manjericão branco, colônia, folha da costa, malva branca, algodão,
ipê, camomila, etc.
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