Óbà ou Íyóbà é uma divindade
misteriosa, cujo culto se tornou escasso, assim como seus filhos iniciados.
Pouco se sabe sobre sua origem, mas contam as lendas africanas que Óbà nasceu
do incesto de Òrúngàn em sua mãe Íyèmònjá. Óbà era uma grande guerreira, que
não temia ninguém. Tinha prazer em batalhar, travando disputas como muitos
deuses. Sua principal batalha foi com Ògún, o senhor da guerra. Antes da
batalha, Ògún consultou um gbágbáláwò, que o orientou a fazer uma oferenda no
local onde iriam batalhar, constituída de uma pasta feita de quiabo. Assim foi
feito e quando começou a batalha, Ògún foi conduzindo Óbà para o local onde
tinha essa oferenda. Óbà escorregou e Ògún a possuiu ali mesmo, tornando-se
seu primeiro marido. Mais tarde Óbà teria se casado com Sàngò sendo sua
terceira esposa. Dividia o coração de seu amado com Òíyá e Òsún, sendo a mulher
que o grande rei era mais afastado. Cabia a Óbà prender o rei pela barriga,
preparando deliciosos pratos. Mesmo assim, Sàngò ainda dava mais atenção e
carinho à Òsún, a mais jovem e bela de suas esposas. Óbà indignada foi até a
beira do rio onde Òsún costumava se banhar e se olhar em seu ágbègbè e,
perguntou o que Òsún fazia para ter o amor e a atenção de Sàngò. Òsún esperta e
maliciosa, aproveitando que estava com um torço que escondia suas orelhas,
disse para Óbà que havia cortado sua orelha para preparar o ámálá de Sàngò. Óbà, desesperada para ter a atenção do marido, pôs-se a cortar sua orelha
esquerda e enfeitou o prato preferido de seu amado com a iguaria. Sàngò, o rei
de Òíyó, quando viu Óbà mutilada e a orelha dentro de sua comida teve
repugnação, expulsando Óbà de seu reino e deixando de ser seu marido. Óbà possuída por um sentimento de ódio jura se vingar de Òsún e, parte para cima da
grande Íyágbá, armada de sua espada. As duas deusas travam uma terrível batalha
que só é interrompida pelos gritos de Sàngò, com voz de trovão, assustando as
íyágbás, que correndo apressadas se tornaram dois rios. Na África o rio Òsún e
o rio Óbà se cruzam, tendo neste local, águas revoltas e turbulentas,
lembrando a batalha das duas divindades. Outra lenda conta que Óbà após ter
sido expulsa de Òíyó por ter cortado a orelha, se isola em uma ilha,
encontrando lá um grande caçador, com o qual se casa e finalmente encontra
carinho e atenção. Torna-se então uma grande caçadora, deixando de guerrear e
se dedicando a sua aldeia. Partia para a floresta, mata à dentro, em busca de
grandes caças, munida de Òfá (arco e flecha) e Òzí (seta ou arpão).
Após ter sofrido tanto em sua
vida amorosa, Óbà um pouco mais velha, em seu isolamento, repudia os homens,
se tornando uma divindade feminista, criando a sociedade Ílèkó ou èlèkó que tem como
base o culto à Íyámí Òsòròngá, as grandes feiticeiras que representam os
ancestrais femininos. É chamada de íyá (mãe) Òsí (lado esquerdo), ou seja, a
mãe da esquerda, onde o lado esquerdo dentro do culto está intimamente ligado
às mulheres.
Óbà tem um temperamento
arredio, sendo muito geniosa e agitada. Seu temperamento iguala ao de Òíyá,
tendo muito em comum com a grande deusa dos ventos e tempestades. Óbà é a
senhora da cozinha de santo (ílè ídànà), sendo responsável pelo preparo de
todos os alimentos e oferendas. Em respeito a seu poder e sua importância,
quando cozinhamos para as divindades, colocamos uma vela acesa e um copo com
água na cozinha, obtendo dessa forma a permissão de Óbà para fazer o preparo
das oferendas. A cozinha de santo é um lugar sagrado, onde existem muitos
preceitos para aqueles que a utilizam, sendo manipulada apenas por mulheres. Óbà é a senhora da íyágbásé, mulher
iniciada de íyágbá, designada pelos òrísás para cozinhar oferendas e ègbós.
Quando manifestada, sempre
aparece tapando sua orelha esquerda. Não usa fílá, sendo uma grande guerreira e
caçadora. É cultuada nas festividades de Sàngò, Òdé e na festa das íyágbás. Rege o
amor não correspondido e o sofrimento das pessoas que perdem a pessoa amada.
Tem ligação com o elemento fogo, pois se trata da senhora do preparo dos
alimentos, porém também tem ligação com o elemento água, sendo a senhora das
ilhas e penínsulas, regendo também os rios de águas revoltas e a pororoca. É
solitária e se aproxima de Nànàn, pois Nànàn é a morte e Óbà a guerra e,
guerra e morte andam lado a lado. Senhora dos relacionamentos sérios, do ciúme
incontrolável e do lado possessivo do amor.
Saudação: Óbà Sírè!
Sincretismo: Santa Joanna D'Arc;
oferendas: Abará, acarajé, vatapá, amalá;
cor: coral;
Òdú regente: ògbéògúndá;
Número: 15 (quinze);
Algumas ervas: Nega-mina, catinga-de-mulata, obó...
Dia da semana: quarta-feira.
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